Lição

Lição

POR GEORGE VIDOR
Governantes vão pensar agora duas vezes antes de agirem irresponsavelmente no trato das finanças públicas
O afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República trouxe preocupações quanto à possibilidade de o Impeachment se banalizar no Brasil como instrumento para que os grupos políticos se livrem de governantes que estejam em minoria parlamentar. Nesse caso, o país passaria a correr um risco permanente de instabilidade, com retrocesso institucional. Porém, o outro lado da moeda é que depois desse acontecimento – que ninguém espera que volte a se repetir - todos os governantes (presidentes, ministros, governadores, prefeitos, secretários) pensarão duas vezes ao adotar iniciativas que podem comprometer as finanças públicas.
O descuido com as finanças públicas tem marcado a vida política brasileira desde a Independência. “O Império era o déficit”, afirmou Ruy Barbosa, ao assumir o Ministério da Fazenda depois da proclamação da República. Com a queda abrupta da inflação, depois do lançamento do real o desequilíbrio crônico se tornou mais evidente. A forma como as finanças públicas foram conduzidas a partir da metade do segundo mandato do presidente Lula não é mais tolerável. No entanto, só quando a economia brasileira caiu em profunda recessão é que a sociedade resolveu tomar uma atitude. Ficou a lição.
Olho vivo e faro fino
Sem considerar a inflação, os alugueis caíram cerca de 10% no Rio, na avaliação do Secovi, a entidade que reúne administradores de imóveis e condomínios. Os alugueis residenciais ficaram estáveis pois a crise fez aumentar a procura por locação. Por receio do que venha a ocorrer na economia no futuro imediato, muita gente desistiu de comprar imóveis. Só no município do Rio, a arrecadação do ITBI - o imposto de transferência de imóveis – caiu cerca de 30%, enquanto a do Imposto Sobre Serviços (ISS) recuou apenas 0,7%.
A queda dos aluguéis se concentrou mais nos imóveis comerciais, por várias razões. A alta anterior não se sustentou diante da retração das atividades econômicas. Enquanto a demanda diminuiu, e a oferta aumentou, pressionada pelos investidores que dependem do retorno do capital para quitar imóveis que adquiriram nos tempos da bonança. No centro da cidade, especificamente, prestadores de serviços que mantinham escritórios dentro do raio de distância da sede da Petrobras, exigido pela estatal, rescindiram contratos.
No entanto, a receita das administradoras vem se mantendo. O valor dos condomínios continua encarecendo e sobre eles sempre pesa o risco de um custo adicional por conta da imaginação fértil dos nossos legisladores. Uma deputada estadual queria exigir a presença de uma enfermeira em todos os prédios que tenham salas de ginástica (o que não é exigido nem nas academias). Outro desejava obrigar todo prédio a ter um desfibrilador – equipamento usado em vítimas de ataques cardíacos – com treinamento compulsório dos empregados para o atendimento de emergência. Mais um outro queria que todos os edifícios passassem a ter instalações, conectadas aos apartamentos, para recolher óleo de cozinha. Um projeto impõe aos condomínios a captação da água que aparelhos de ar condicionado retiram da atmosfera. Trabalho noturno nas portarias, também por um projeto, deveria ser equiparado ao de vigilantes de segurança.
Na melhor das intenções, parlamentares queriam que todos os prédios passassem a ter disponível uma cadeira de rodas. Ou que imóveis com mais de 50 metros quadrados tenham câmeras com capacidade de armazenar imagens perlo período de 90 dias.
Xô crise!
Diante das dificuldades pela qual a economia passa, chega a ser constrangedor ficar repetindo que a crise pode ser também uma oportunidade no mundo dos negócios. Mas a prática comprova isso. É o caso da Zinzane, uma grife de moda que nasceu há 14 anos no Rio tem hoje quase cem lojas distribuídas por 17 estados. Na semana anterior ao Dia das Mães a Zinzane vendeu mais 82% do que em igual período do ano passado. Descontada a contribuição de novas lojas, o crescimento foi de invejáveis 50%.
Criada pela estilista Cláudia Richa, em parceria com o marido (o ex-jogador de vôlei Renato Villarinho), a Zinzane começou na Babilônia Feira Hype, evento alternativo de moda, na época. Participou de 42 diferentes feiras em apenas um ano. De uma pequena confecção em São Cristóvão mudou-se em meados do ano passado para o bairro de Jacarepaguá, ocupando instalações de uma companhia química. Lá cerca de cem funcionários produzem 60% do que as lojas da marca vendem.
A Zinzane lIdera, no Brasil, a venda de vestidos longos. Em 2015 lançou uma linha de moda masculina que já responde por 10% das vendas. Até agosto vai abrir dez novas lojas. No ano passado, faturou cerca de R$ 160 milhões.

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