Minha coluna no Globo de 4-4-2016

Minha coluna no Globo de 4-4-2016

POR GEORGE VIDOR
Tempos amargos
Prédios comerciais e residenciais estão voltando a ser entregues dentro do prazo porque sobra mão de obra na construção civil
O "boom" imobiliário ficou para trás e, no caso, específico do Rio de Janeiro, as obras direta ou indiretamente relacionadas aos Jogos Olímpicos estão chegando ao fim. Com isso, voltou a sobrar mão de obra para a construção. Se antes ninguém estava conseguindo cumprir prazos de entrega – exatamente porque não se conseguia gente qualificada para trabalhar, e nem havia equipamentos disponíveis no mercado no momento que se precisa deles – agora as obras que estão andando mais rápido, para que não haja risco de multa contratual.
O problema é que faltam compradores. Os investidores especulativos estão amargando prejuízos e só querem saber de destrato. Muitos juízes os tratam como compradores finais e lhes dão sentenças favoráveis nos embates com incorporadores. O financiamento para imóveis comerciais desapareceu. Quem tem bons empreendimentos, em boa localização, ainda consegue vender.
No ano passado, a João Fortes Engenharia, uma das maiores construtoras do Rio, entregou 22 prédios e pretende chegar a 17 em 2016. No entanto, para frente, os projetos estão na prateleira, aguardando recuperação do mercado. Uma das últimas entregas foi um prédio retrofitado, para uso comercial, na Praça XV, que está sendo transformada em  um cartão postal. É preciso ter também um pouco de sorte nessa atividade.
Na contramão
A Servier é uma indústria farmacêutica francesa que foge aos padrões convencionais do setor. Surgiu como uma pequena farmácia, com apenas nove empregados. Nos anos 1980, preocupado com a possibilidade de as "nacionalizações" que o governo de François Mitterrand vinha promovendo na França – atingindo principalmente bancos e grandes companhias industriais – pôr seu projeto e sonho a perder, o doutor Jacques Servir transferiu o controle da sua empresa para uma fundação. Com isso evitou a tal nacionalização e preservou a companhia. Médico e farmacêutico, Servier faleceu em 2014, aos 93 anos. O grupo que criou fatura cerca de 4 bilhões de euros por ano e está presente em 140 países, dos quais o Brasil se destaca por abrigar uma das fábricas da empresa, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde produz 500 milhões de unidades de medicamentos por ano.
Dos 50 maiores laboratórios farmacêuticos do mundo, aproximadamente 90% têm seu controle acionário diluído nas bolsas de valores. Os demais 10% estão nas mãos de grupos familiares. A exceção é a Servier que nem está na bolsa e nem pertence mais a uma família. Com isso, reinveste um quarto dos seus lucros em pesquisa e desenvolvimento (metade em medicamentos para tratamento do câncer) e o restante na ampliação da capacidade de produção.
Agora em abril, a Servier completa 40 anos de Brasil e tem planos ousados pela frente. Mesmo com o país em recessão, espera contratar mais 200 pessoas até 2021. A empresa fatura cerca de R$ 300 milhões no mercado brasileiro e pretende atingir o patamar de R$ 2 bilhões até 2026 (com uma meta intermediária de R$ 800 milhões em 2021). Para isso conta com 15 novos medicamentos, inovadores, que serão lançados daqui a dois anos – que o prazo esperado para a homologação na Anvisa. São remédios para tratamento de diabetes tipo 2, da hipertensão, do colesterol e do câncer que foram testados e aprovados na Europa, Japão e Estados Unidos.
O Brasil é o quarto país do mundo com mais diabéticos tipo 2. Fica atrás apenas da China, dos Estados Unidos e da Índia, nações mais populosas.
À medida que a população envelhece, diabetes e doenças coronárias estarão mais presentes na vida dos brasileiros, infelizmente.  O antídoto são hábitos mais saudáveis (alimentação, exercícios físicos, menos estresse), o que exige mudanças profundas no nosso jeito de ser, pouco prováveis de ocorrerem entre as gerações mais maduras.
A característica acionária da Servier facilitou acordos com laboratórios nacionais sem fins lucrativos (Fiocruz, Exército, Vital Brasil) e universidades. As patentes desenvolvidas nessas parcerias não ficam com o laboratório francês, que está em segundo lugar no ranking de seu país – o primeiro é a Sanofi – e disputa uma posição entre o 26º e o 29º em escala mundial. No mercado farmacêutico brasileiro, a Servier aparece como nono maior investidor europeu.
Florescendo
Shirley Yanez e sua irmã gêmea trabalham há anos como cerimonialistas de casamentos no Rio. Em função dessa atividade, Shirley descobriu uma nova vocação: arranjos de flores. É claro que começou pelos buquês de noivas. Chegou a fazer cursos nos Estados Unidos (em Michigan e Nova York). Hoje é a única a preparar um buquê semelhante aos usados pelas princesas Kate Midletton (ao casar com o príncipe William) e Grace Kelly (no célebre casamento em Mônaco, com o príncipe Rainier). Um buquê de noiva com as flores "Migue", importadas para Shirley com exclusividade, custa R$ 4 mil!  
Em visita à antiga fábrica da Bhering, na região portuária do Rio, Shirley se encantou com o local – com vários ateliês de artistas plásticos – e montou sua loja lá, onde prepara os arranjos florais e dá aulas para quem deseja aprender a técnica por simples prazer. Shirley participa de grupos que estão trilhando caminhos semelhantes ao dela, ou seja, se reinventando em plena crise econômica. As mulheres estão mais envolvidas do que os homens nesse processo de reinvenção.  

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