Guerra e paz

Guerra e paz

POR GEORGE VIDOR
Parafraseando Tolstói, depois do terrível 2016, a crise de crédito deve amainar em 2017 ajudando a economia brasileira a crescer
O crédito funciona como uma alavanca em qualquer economia. Geralmente as empresas tocam seus negócios usando uma parcela de capital de terceiros. As famílias costumam fazer o mesmo em seu cotidiano. Quando as coisas vão bem, os agentes econômicos acabam aumentando essa proporção de recursos de terceiros. Endividam-se; alavancam-se. Dependendo do tipo de atividade, existe uma proporção entre o capital próprio e o de terceiros. Em grandes companhias, considera-se satisfatório que o nível de endividamento corresponda a duas vezes o que a empresa gera de caixa nos próprios negócios. É o que a Petrobras, por exemplo, está tentando atingir, depois de ter alcançado a proporção assustadora de cinco vezes dívida/Ebitda. E para as famílias, qual é a proporção adequada? Vai depender do estilo de vida de cada uma, mas é visto como prudente que as despesas financeiras (juros e também amortizações) não comprometam mais que um terço do orçamento doméstico.
A economia brasileira não é uma das mais financiadas no mundo. Em vários países desenvolvidos o volume total de crédito ultrapassa o tamanho do Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, vamos rodando na faixa de 50%, depois de ter batido na casa dos 55%. O problema é que aqui o crédito avançou rápido, as taxas de juros são demasiadamente altas, os prazos de pagamento curtos e as garantias exigidas quase sempre beiram o exagero. Então é preciso pensar duas vezes na hora de se contrair um empréstimo. Vale para um automóvel, para a compra da casa própria, ou para qualquer outra coisa. Assim, o crédito pode ser tanto uma alavanca como uma armadilha.
O crédito possibilita a antecipação do consumo ou do investimento. Nesse caso funciona como uma alavanca e traz benefícios para todos. No entanto, se o limite da prudência é ultrapassado, o endividamento sufoca e pode fazer com que a economia funciona apenas para pagá-lo. Foi o que aconteceu com o Brasil nos últimos tempos. Setor público, setor privado, famílias só trabalham para ajustar suas contas. Esse processo já terminou? Provavelmente ainda não, mas grande parte do caminho foi andado e, por isso, espera-se que agora em 2017 a economia, enfim, esteja na trilha da recuperação. Até porque as taxas de juros estão caindo.
Na média, ano contra ano, o PIB não deve se expandir mais que 1%. Porém, ao fim de 2017, comparado com o período derradeiro de 2016, talvez esteja crescendo a um ritmo de 2%. Assim, em 2018, a economia brasileira poderá se expandir em torno de 2,5% e 3%, que é o ritmo possível e/ou desejável para esses nossos tempos. Oxalá!
Oportunidades, via tecnologia
A economia estagnada atrapalhou, mas não impediu que uma série de start ups, como são chamadas empresas emergentes ainda pequenas mas com forte potencial de crescimento, tivessem um bom desempenho no ano passado. Alguns exemplos:
1) a Cammada, criada por quatro jovens empreendedores – todos dedicando-se simultaneamente a alguma outra atividade, em paralelo -  de olho na capacidade não utilizada de companhias que têm impressoras 3D e prestam serviços para terceiros. O que eles fazem? Pela internet, aceitam encomendas específicas e desenvolvem um programa para atendê-las, contratando em seguida algum impressor para executar o serviço. Assim, produziram peças para tratores agrícolas na região do Centro-Oeste que saíram de linha de fabricação e não têm mais itens de reposição disponíveis no mercado. As impressoras 3D usam tanto polímeros (plásticos) como metais, e executam o serviço com a precisão dos robôs, perfeição nem sempre possível se executado manualmente;
2) A família de Karina Firme atuava mais na área imobiliária, porém ela acabou se associando a Charles Boggiss, amigo do marido, em uma empresa de realidade virtual, a UView360. Fotos e filmagens em 360 graus ainda são uma novidade no mercado brasileiro, mas já começam a figurar na programação da TV aberta (na Globo, foi feita uma experiência na Dança dos Famosos, quadro do programa do Faustão) como nos canais por assinatura (na Globosat, até mesmo no canal adulto Sexy Hot). Esse mercado tem um potencial projetado de US$ 120 bilhões no mundo. Durante os Jogos Olímpicos, a UView360 fez vários trabalhos, especialmente para a televisão chinesa;
3) Filho de um corretor de valores, Luiz Barrozo passou vinte anos coordenando operações de “home broker”, negócios em bolsa de valores fechados diretamente pelos clientes por meio de um computador pessoal. Luiz teve a ideia de adaptar esse tipo plataforma para administração financeira de uma maneira que qualquer empresário possa acompanhar, com facilidade, o fluxo de caixa do seu negócio, sem precisar da ajuda de ninguém. Por esse serviço, Barrozo facilitou a vida até dos contadores. Recentemente foi consultado para prestar o serviço em outros países, como Portugal. A Osayk cresceu a um ritmo de 30% no ano passado.

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